Com safras em crescimento e demanda internacional aquecida, país se consolida como fornecedor estratégico, mesmo em cenário de preços pressionados
A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) divulgou seu mais recente levantamento sobre commodities agrícolas, com dados de abril de 2025, revelando a força da produção brasileira em um cenário de volatilidade nos preços e incertezas logísticas. Café e soja se destacaram com crescimento expressivo, reafirmando o protagonismo do Brasil como fornecedor estratégico de alimentos.
“Mesmo diante de um ambiente global desafiador, com tensões geopolíticas e gargalos na logística internacional, o Brasil segue firme como um dos principais pilares da cadeia alimentar mundial”, afirma Cleber Sabonaro, gerente de economia e inteligência competitiva da ABIA. “A potência das nossas commodities reforça nossa responsabilidade e nossa vantagem competitiva no setor de alimentos.”
A valorização das commodities tem impacto direto sobre os custos da indústria de alimentos. Atualmente, matérias-primas e embalagens representam, em média, mais de 60% do custo de produção industrial.
Café: Clima e tecnologia levam à produção recorde
A safra de café conilon deve atingir 18,7 milhões de sacas de 60 kg, uma alta de 27,9% em relação ao ciclo anterior, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). O resultado é fruto da combinação entre expansão de área plantada, investimentos em tecnologia e condições climáticas favoráveis.
“O café é um exemplo claro de como a modernização do campo tem gerado ganhos consistentes de produtividade. Isso beneficia não apenas os exportadores, mas toda a cadeia de alimentos e bebidas, que depende da estabilidade da oferta para manter seus custos sob controle”, destaca Sabonaro .
Apesar do aumento da produção, os preços permanecem elevados devido à baixa nos estoques globais e à manutenção da forte demanda internacional.
Soja: China mantém ritmos elevados de importações
Com 168,3 milhões de toneladas colhidas, a soja segue como a principal cultura do país, com crescimento de 14% frente ao ciclo anterior. A demanda da China continua sendo o principal motor do desempenho, respondendo por mais de 70% das exportações brasileiras desde 2011.
“A relação comercial com a China é estratégica e altamente sensível. Qualquer oscilação no apetite chinês afeta diretamente o mercado interno e os preços no campo e na indústria”, analisa Sabonaro.
No mercado de derivados, o óleo de soja atingiu recordes históricos de preço, sustentado pela alta demanda mundial por óleos vegetais e pela oferta global limitada. No Brasil, houve queda de 1,9% em abril, reflexo da valorização do real, mas os preços ainda estão acima dos patamares de 2024.
Outras comodities em foco
Açúcar: Em abril, o açúcar teve alta de 1,9% no Brasil, mas queda acumulada de 3,3% em 12 meses. Na União Europeia, os preços subiram 4,8% no mês. A produção de cana-de-açúcar deve alcançar 45,9 milhões de toneladas, reforçando o abastecimento no Nordeste. “O açúcar é um produto com forte exposição internacional. Com as exportações indianas limitadas, o mercado global segue ajustado, o que tende a manter os preços sustentados”, avalia Sabonaro .
Arroz: Os preços caíram 7,1% no Brasil e 25,1% no acumulado anual. A produção nacional deve crescer 14,8%, alcançando 12,14 milhões de toneladas, em linha com o aumento global da oferta. A tendência, segundo a análise da ABIA, é de recuo nos preços ao longo do ano. “A safra recorde de arroz é positiva para o consumidor, mas pressiona os produtores. É fundamental buscar equilíbrio entre abastecimento interno e remuneração justa ao campo”, aponta o gerente do departamento de economia.
Cacau: O cacau subiu 11,1% no Brasil em abril e 5,5% no ano. Globalmente, após três anos de déficit, a ICCO projeta superávit, o que tende a reduzir a volatilidade dos preços. “O cacau é um insumo estratégico para diversas categorias da indústria alimentícia. Uma oferta mais estável traz previsibilidade, o que é essencial para planejamento e contratos de longo prazo”, afirma Sabonaro.
Leite: O leite registrou alta de 5,4% em abril e 19,9% em 12 meses. A produção nacional deve crescer até 2,5% em 2025. No entanto, estoques elevados e menor demanda podem pressionar os preços nos próximos meses.
Milho: Queda de 6,1% em abril no Brasil, mas alta de 40,3% no acumulado anual. A produção prevista é de 126,9 milhões de toneladas. A safrinha garante o abastecimento interno, sobretudo para proteínas animais.
Trigo: No Paraná, o trigo subiu 2,9% em abril e 23,5% no acumulado de 12 meses. Apesar do crescimento de 4,6% na produção nacional, o Brasil continua dependente das importações, o que mantém os preços internos pressionados.
Índice FAO e os preços dos alimentos
O índice da FAO registrou 128,3 pontos em abril de 2025, com alta de 1% no mês e 7,6% em 12 meses. A elevação foi puxada pelos grupos de carnes, laticínios e cereais, enquanto óleos vegetais e açúcar registraram queda.
“O comportamento do índice da FAO traduz o cenário atual: temos um mercado pressionado por incertezas climáticas, aumento dos custos logísticos e demanda oscilante. A indústria brasileira precisa manter agilidade para lidar com essas variáveis e garantir abastecimento a preços justos”, conclui.
O cenário mostra que, apesar da valorização internacional de diversos produtos, o Brasil mantém um ritmo firme de produção e abastecimento. A oscilação nos preços, influenciada por fatores climáticos, geopolíticos e cambiais, exige da indústria resiliência, gestão de custos e visão de longo prazo. Ao mesmo tempo, o país reafirma sua posição como fornecedor confiável de alimentos e protagonista no debate sobre segurança alimentar global.
“O setor precisa seguir investindo em tecnologia, sustentabilidade e diálogo com os elos da cadeia para manter nossa competitividade e relevância no cenário internacional”, reforça Sabonaro
Acesse o relatório completo: https://abia.org.br/commodities.php
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