É natural que bebês chorem. O choro é, afinal, sua principal forma de comunicação. No entanto, quando a irritação parece constante e o choro se torna recorrente sem motivo aparente, é compreensível que pais e cuidadores fiquem preocupados. O desafio está em diferenciar o choro típico do desenvolvimento daquele que pode indicar algum desconforto ou problema de saúde.

Neste artigo, reunimos cinco causas comuns que podem justificar um bebê mais irritado do que o habitual — desde fatores ambientais até questões clínicas que merecem atenção profissional.

1. Sono insuficiente ou mal distribuído

Apesar de parecer que bebês dormem bastante, a qualidade e o padrão desse sono fazem toda a diferença. Um bebê que dorme em ciclos fragmentados ou com dificuldade para entrar em sono profundo pode acordar várias vezes durante o dia e a noite, gerando irritação acumulada.

Recém-nascidos não têm ainda um ritmo circadiano bem estabelecido, o que significa que eles não diferenciam claramente o dia da noite. Além disso, fatores como fome, calor, frio, luz ou ruídos podem interferir diretamente na duração e na qualidade do sono.

Manter um ambiente tranquilo, escuro e confortável durante a noite ajuda a estabelecer uma rotina de descanso mais eficaz com o tempo.

2. Estímulo excessivo

Bebês são sensíveis ao ambiente. Muita luz, barulho, manipulação constante ou mudanças frequentes de lugar podem sobrecarregá-los. Mesmo que estejam sendo bem cuidados, esse excesso de estímulos pode deixá-los exaustos e, como ainda não sabem lidar com essa sensação, acabam chorando como forma de liberação.

Pais e cuidadores costumam oferecer brinquedos, colo de várias pessoas e até telas (em casos de crianças um pouco maiores), o que pode contribuir ainda mais para esse estado de exaustão. Observar os sinais de cansaço e reduzir estímulos antes da irritação se instalar é uma estratégia importante para minimizar episódios de choro prolongado.

3. Desconfortos gastrointestinais

O sistema digestivo dos bebês ainda está em formação, e isso pode resultar em episódios frequentes de cólica, gases e refluxo. Esses desconfortos, embora considerados comuns nos primeiros meses de vida, são uma das maiores causas de irritabilidade.

Algumas medidas simples, como massagens abdominais suaves, mudanças na posição após as mamadas e pausas para arrotar, costumam aliviar o desconforto. No entanto, se o bebê demonstra dor constante, dificuldade para evacuar ou sinais de regurgitação frequente com desconforto aparente, é fundamental buscar orientação médica.

4. Alergias alimentares

Entre os fatores que nem sempre são percebidos de imediato está a possibilidade de o bebê apresentar alguma alergia alimentar. Uma das mais frequentes na infância é a Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), que pode ocorrer mesmo em bebês que ainda são amamentados exclusivamente ao se exporem indiretamente à proteína por meio da alimentação da mãe.

Os sintomas da APLV podem causar irritabilidade intensa, choro inconsolável, cólicas persistentes, alterações nas fezes (como diarreia ou presença de muco e sangue), além de sintomas dermatológicos e respiratórios.

Por ser uma condição que se manifesta de formas variadas, muitos pais demoram a identificar o que está acontecendo, atribuindo os sintomas a cólicas comuns ou refluxo. Em casos assim, é importante observar o conjunto de sinais e discutir a possibilidade com o pediatra.

O diagnóstico da APLV requer uma abordagem clínica cuidadosa, que pode incluir dieta de exclusão e acompanhamento especializado. O tratamento costuma ser eficaz e leva a uma melhora significativa no bem-estar do bebê.

Seja na APLV ou em outra alergia alimentar, jamais se deve iniciar restrições alimentares por conta própria, pois isso pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento do bebê. Após a avaliação médica, o especialista poderá solicitar testes, propor uma dieta controlada e acompanhar a evolução clínica da criança de forma segura.

Com o acompanhamento adequado, a maioria das crianças com alergias alimentares evolui bem e muitas superam essas sensibilidades com o passar dos anos. O importante é garantir que o bebê receba todos os nutrientes necessários e tenha qualidade de vida ao longo do processo.

5. Necessidade de conexão e acolhimento

Nem sempre há um motivo físico por trás do choro. Bebês são seres sociais e demandam contato físico, afeto e segurança emocional. Muitas vezes, o choro contínuo é uma expressão de carência, ansiedade ou busca por acolhimento.

Especialmente em fases de crescimento acelerado ou mudanças no ambiente (como o retorno da mãe ao trabalho ou a introdução de novas pessoas no cuidado diário), o bebê pode se sentir inseguro. Nesses casos, oferecer colo, atenção e presença pode ser tudo o que ele precisa para se acalmar.

O conceito de “excesso de colo” é um mito: bebês não manipulam, eles se comunicam. E um bebê que se sente seguro chora menos com o tempo.

Quando se preocupar?

Se a irritabilidade for constante, mesmo com boas condições de sono, alimentação e acolhimento, ou se vier acompanhada de outros sintomas como perda de peso, alterações de pele ou problemas gastrointestinais persistentes, é hora de procurar o pediatra. A investigação precoce pode evitar complicações e garantir mais conforto e saúde para o bebê.

Lidar com um bebê constantemente irritado pode ser emocional e fisicamente desafiador para qualquer cuidador. Por isso, entender os possíveis motivos e saber quando buscar ajuda faz toda a diferença. Muitas causas são transitórias e fazem parte do desenvolvimento natural. Outras, como alergias alimentares, exigem uma atenção especial e acompanhamento profissional.

Observar, acolher e confiar na própria intuição — sempre aliada ao suporte médico — é o melhor caminho para atravessar essa fase com mais tranquilidade.

Referências:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Em nota, SBP alerta para a importância da qualidade do sono na infância. 19 maio 2022. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/em-nota-sbp-alerta-para-a-importancia-da-qualidade-do-sono-na-infancia/.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento Científico de Gastroenterologia. Distúrbios gastrointestinais funcionais no lactente e na criança abaixo de 4 anos: um guia para a prática diária. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2022.