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Para caminhoneiros, diesel caro e frete baixo são mais graves que risco de assaltos


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Todo dia, quando pega a estrada, um caminhoneiro dirige, em média, por 11,3 horas. Por mês, chega a percorrer cerca de 10 mil quilômetros segundo o Perfil dos Caminhoneiros, traçado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). O motorista reclama dos assaltos, das más condições das rodovias e do estresse, mas, para ele, nada é pior do que o preço do combustível.

P U B L I C I D A D E

“A gente tem muitos problemas de segurança, muito roubo de carga, a gente sai de casa sem saber se vai voltar. Mas o preço do combustível tem mais peso porque, se aumenta, encarece tudo”, destaca o catarinense Júlio César de Almeida, 34, caminhoneiro autônomo há 14 anos.

Segundo levantamento da CNT, 9,1% deles já foram vítimas de roubo de cargas, e 6,9% tiveram o veículo roubado. Mas quando a pergunta é qual é o pior problema da profissão, a insegurança perde tanto para o custo do diesel quanto para o valor do frete. Enquanto os assaltos e os roubos aparecem em 37,6% das respostas, o preço do combustível está em 46,4% delas, seguido do valor do frete, citado em 40,1% das respostas. Esses dois últimos são exatamente os fatores que desencadearam o maior movimento já realizado pela categoria: uma greve que durou 11 dias, mas, até agora, está tendo seus efeitos contabilizados.

“A gente estava pagando para trabalhar. Em um frete de R$ 5.000, eu ficava com R$ 2.000, o restante ficava na estrada. Não dava para saber que valor você iria pagar na próxima vez, porque toda semana o diesel estava subindo”, conta Almeida.

Achatados

Para o presidente da Federação das Empresas Transportadoras de Cargas do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Costa, mais grave do que o diesel é o frete, que não remunera o custo do combustível. “Em 1980, o peso do combustível  nos custos do caminhoneiro era de 25% do frete. “Eles gastavam mais 25% com manutenção, e sobrava 50%. Era algo que passava de pai para filho. O ideal seria que esse peso variasse entre 30% e, no máximo, 50% do frete, mas atualmente tem casos que chegam a 80%. Então não sobra nada para o caminhoneiro, porque dentro desses 20% ainda tem a manutenção e as despesas pessoais com alimentação. Esse foi o motivo de tanta indignação e da greve”, afirma Costa.

Na avaliação do presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC), Lauro Valdívia, para piorar, tudo aconteceu durante uma séria recessão. “O maior problema nem foi o aumento do diesel, que não parou de subir, mas, sim o valor do frete que não acompanhou essa alta, porque o volume de carga transportada está caindo no Brasil e o transportador não consegue repassar. Aí o caminhoneiro fica achatado nesse meio”, pontua.

Ônibus

Para quem saiu às ruas em 2013 para lutar contra o aumento da tarifa e brigar por mudanças no país, o preço também vem antes da insegurança. Enquanto ela foi apontada por 55% dos usuários de ônibus como o maior problema, o alto custo da tarifa foi indicado por 64,5% dos ouvidos para a pesquisa Mobilidade da População Urbana, realizada em 2017 pela CNT, disparando como o pior pesadelo para quem usa esse tipo de transporte coletivo. O tempo gasto entre as viagens apareceu como a pior dificuldade em 28,8% das respostas.

Fogo em ônibus para desafiar o ESTADO

O transporte não é apenas o fim, mas também o meio de algumas formas de protesto: neste ano, mais de 150 ônibus foram incendiados no país, a maioria deles em Minas Gerais, que registrou pelo menos 70 ataques a coletivos em 40 cidades. Os atos seriam um atentado contra o Estado, uma forma de demonstrar poder e espalhar pânico.

“O objetivo é afrontar o Estado, e o ônibus é um alvo fácil de abordar, queimar e correr depois. A questão é causar prejuízo financeiro e trazer um recado para a sociedade, mas é justamente a parcela mais pobre que paga”, afirma o delegado regional de Uberlândia, Luciano Alves. O Triângulo Mineiro e o Sul de Minas concentram a maior parte dos ataques, que teriam sido coordenados por uma facção criminosa paulista contra as condições dos presídios.

Em Minas, até o final de junho, 90 pessoas foram presas e 26 menores foram apreendidos pelos ataques. No entanto, segundo o delegado, a falta de legislação específica do crime facilita a soltura dos suspeitos. “Essas pessoas respondem por crime de dano qualificado, que tem uma pena pequena”, pontua.

Para o coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio, as queimas de ônibus podem ter uma série de motivações, como disputas entre grupos criminosos, retaliação pela morte de um traficante ou ataques coordenados por facções criminosas. “Há, por um lado, a sensação de descontrole, insegurança e pânico, e, de outro, a incapacidade de manter a vigilância, tendo em vista que são centenas de veículos espalhados”, analisa Sávio.

Reflexos da greve dos caminhoneiros
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