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Religião

Os pães da proposição – Por Tiago Rosas


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Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 12 do trimestre sobre “Adoração, Santidade e Serviço”.

P U B L I C I D A D E

Antes de prosseguirmos, gostaria de te apresentar um conteúdo que pode lhe ajudar a melhorar suas aulas na Escola Bíblica Dominical. O curso produzido pela Universidade da Bíblia chama-se Formação de Professores para Escola Bíblica Dominical e tem matérias sobre a psicologia da educação cristã, didática, métodos de ensino entre outros.

I. Os pães da proposição

Os “pães da proposição” ou “pães da Presença” são mencionados pela primeira vez no livro de Êxodo (25.30), e estão relacionados à mesa de madeira de acácia toda revestida de ouro, que Deus ordenou a Moisés que construísse para servir de suporte para estes pães.

  • A mesa dos pães

Fabricada com a excelente madeira de acácia, e toda revestida de ouro puro (Ex 25.24), a mesa dos pães da proposição tinha as seguintes medidas, conforme a versão NVI que já traduz o texto com as medidas que usamos hoje: “noventa centímetros de cumprimento, quarenta e cinco centímetros de largura e setenta centímetros de altura” (Ex 25.23, NVI). Outras descrições sobre a mesa e utensílios ligados à mesa da proposição, como as varas de acácias também revestidas de ouro, os pratos, tigelas e bacias, conferir o texto de Êxodo 25.23-30.

Esta mesa com os pães ficava no lugar Santo, de frente para o candelabro de ouro.

  • Os pães da proposição

A instrução quanto à produção dos pães está no manual dos levitas, isto é, no livro de Levítico, capítulo 24 e versículos 5 a 9. Os sacerdotes acumulavam ainda esta função: santos padeiros!

Feitos de “flor de farinha” (v. 5), isto é “da melhor farinha” (NVI), os pães eram postos sobre a mesa no lugar Santo, um sobre o outro, formando duas pilhas de seis pães cada uma. A tradução Almeida Corrigida (tradução oficial usada pela editora CPAD), traz: “doze bolos”. O leitor ou estudante da Bíblia menos informado poderá questionar: eram pães ou eram bolos? (até porque em nossa cultura pães e bolos são coisas diferentes).

É que as palavras em hebraico (challah no vers. 5, ou lechem no vers. 7) usadas neste texto podem ser traduzidas de ambas as formas: pão ou bolo (literalmente, bolo traspassado ou bolo perfurado), e ainda como “cereal”, usado para fazer o pão. Mas há uma explicação cultural aqui:

“Nem sempre o pão foi leve e fofo conforme o conhecemos hoje em dia. De fato, foi somente a partir dos últimos cem anos que os panificadores têm usado regularmente, o fermento, para tufar o pão. Antes disso (…) os padeiros misturavam cereais esmigalhados com água, e então a massa era cozida sobre pedras quentes ou sobre fornos primitivos. Outras vezes, a mistura era cozida ao ar livre, sobre cinzas quentes. (…) Usualmente, a palavra significa pães, mas em formato de bolo (…) [geralmente] bolos chatos e finos, misturados com azeite, o que corresponderia, mais ou menos às nossas pizzas” [1]

A imagem abaixo ilustra melhor como seriam esses pães (ou bolos achatados) da proposição.

Estes pães ficavam expostos sobre a mesa durante uma semana e, então, eram removidos no sábado e consumidos pelos sacerdotes, no recinto do santuário (Lv 24.9). Os sacerdotes coatitas estavam encarregados da fabricação dos pães e dos cuidados com os mesmos (I Cr 9.32).

  • Simbologia dos pães da proposição para Israel

A palavra “proposição” no hebraico é paniym, que pode significar “face” ou “presença”. Por isso os pães da proposição, são também chamados de “pães da Presença”, remetendo à presença de Deus entre o seu povo naquele santuário. O Deus que alimenta, o Deus que supre, o Deus que está sempre perto de seu povo.

II. A palavra de Deus, o pão da vida

Quando tentado pelo diabo para transformar as pedras em pão e assim valer-se de suas forças sobrenaturais para vencer as limitações humanas, Jesus, já sentindo fome devido o prolongado jejum, respondeu ao diabo citando uma passagem da Torá: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4; Lc 4.4). Este texto consta no livro de Deuteronômio (8.3), quando Moisés relembrava as provações vividas pelo povo hebreu no deserto e a maravilhosa provisão que o Senhor lhe concedera.

  • Alimento para todo dia, o dia todo

Em meu livro Biblifique-se: formando uma geração da Palavra, enfatizo este aspecto da Palavra de Deus:

A Bíblia não pode ser para nós mero sedativo espiritual para aliviar dores esporádicas. Sim, ela também cura e alivia o sofrimento, mas muito mais que isso, ela é o saudável alimento que se bem digerido pode nos livrar das doenças da alma!

Minha opinião é que a Bíblia é mais alimento que remédio: remédio tomamos de vez em quando; alimento, comemos todos os dias repetidas vezes!” [2]

Os pães da proposição não eram comidos todos os dias pelos sacerdotes, nem repetidas vezes ao dia, mas apenas uma vez na semana (ou, quando excepcionalmente, serviam para alimentar pessoas em situação de necessidade extrema, como no caso de Davi e seus homens que fugiam de Saul – Conf. 1Sm 21.1-6; Lc 6.1-5). Todavia, a Palavra de Deus é um alimento necessário para a alma, todos os dias e repetidas vezes: “tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1.2).

O salmista nos exorta a confiar no Senhor, fazer o bem e alimentarmo-nos da verdade (Sl 37.3). A Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17), por isso é chamada de “palavra da verdade” (2Tm 2.15; Tg 1.18). Se os sacerdotes hebreus tinham duas fileiras de seis pães cada, para alimentarem-se no santuário, temos nós 66 livros que nos servem de alimento em todo lugar que estejamos!

  • Não pode faltar pão na casa do pão

Os sacerdotes podiam comer os pães do santuário, mas imediatamente precisavam repor pão novo sobre a mesa. Não podia em hipótese alguma faltar pão no santuário do Senhor! Aquela mesa deveria estar sempre cheia de pães.

Há muitos crentes morrendo de inanição espiritual porque estão comendo as gorduras deste mundo, mas privando-se do pão que procede de Deus. Tendo a Bíblia tão perto, desprezam-na para ocuparem-se o dia inteiro em entretenimento na TV e na internet. São verdadeiros zumbis dentro de casa!

Até mesmo igrejas há que sofrem uma profunda escassez deste pão. Como a Belém nos dias de Noemi, são “casas de pão” onde falta pão! (Rt 1.1) [3]. São como os crentes de Sardes: “Tens nome de que vives, e estás morto” (Ap 3.1). O pastor Antônio Gilberto denunciou em tom contundente esta triste situação: “Há atualmente um esvaziamento da Palavra de Deus no púlpito de inúmeras igrejas. O tempo que deveria ser da Palavra do Senhor é ocupado por música e cantos profissionais – não o louvor genuíno – e atividades sociais, restando alguns minutos para a pregação da Palavra de Deus. Daí o elevado número de ‘retardados espirituais’ nessas igrejas. Como está a sua igreja em particular? É preciso vigilância com os chamados hinos especiais duplos e triplos de cantores, conjuntos e corais. Vemos, em Êxodo 30.34-38 e 2 Crônicas 29.27, como são necessários equilíbrio e dosagem na adoração a Deus” (4)

Que o Senhor traga-nos um avivamento poderoso, que provoque em nós o sincero desejo de voltarmos à Palavra, a ponto de ficarmos conhecidos como aqueles jovens ingleses do século 18: “comedores de Bíblia”. Sim, foi assim que ficaram conhecidos John Wesley, Charles Wesley e George Withefield, devido o profundo amor que aqueles moços alimentavam pelo estudo e proclamação da Bíblia sagrada!

III. Jesus Cristo, o pão que desceu do céu

Se sobre a mesa no lugar Santo haviam duas fileiras de pães, dispomos nós hoje de uma dupla aplicação espiritual para aquele alimento: a Palavra de Deus, que é o pão que ingerimos pelo meditar e pelo ouvir; e Jesus Cristo, que é o pão vivo, ingerido pela fé e a comunhão diária com ele. “Jesus fez alusão à luz do menorah [candelabro] e aos pães da proposição quando chamou a si próprio de luz do mundo (Jo 8.12) e de pão da vida (Jo 6.35)” (5)

  • O pão secular se estraga, o pão espiritual não

Quando multidões rodeavam Jesus na expectativa de mais uma multiplicação milagrosa de pães e peixes que pudesse fartá-los, o Senhor repreende-os dizendo: “Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará” (Jo 6.27, NVI). Infelizmente não são poucos os que ainda hoje buscam Jesus não pelo que ele é, mas pelo que ele pode oferecer; não estão interessados na salvação da alma, mas na mera provisão de sustento cotidiano. Há aqueles que transformaram o evangelho em verdadeira fonte de lucro material!

Todavia, este “pão” secular se estraga. Nas palavras de Paulo, “a forma presente deste mundo está passando” (1Co 7.31b, NVI); nas palavras de João, “o mundo passa, e a sua concupiscência” (1Jo 2.17). Quantos pais e mães de família há que já não mais se alimentam da oração, do louvor, da Palavra, da comunhão com a Igreja, e até mesmo já não comparecem mais aos cultos de Ceia na casa do Senhor porque estão sobrecarregados de atividades seculares? Estão fracos, doentes e morrendo espiritualmente porque estão preocupados apenas com o pão que se estraga, mas não estão comendo a comida que permanece para a vida eterna!

O texto dos Salmos é contundente: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele [o Senhor] supre aos seus amados enquanto dormem” (Sl 127.2, ALM21). Quando aprendermos com Jesus que não devemos andar ansiosos por coisa alguma, quanto ao que comer, beber ou vestir (Mt 6.25-34), e confiarmos que nosso Pai nos dá o “pão nosso de cada dia” (Mt 6.11), então passaremos a dar prioridade à nutrição de nossa alma!

  • Jesus, o pão vivo

Uma das declarações mais vibrantes de Jesus em toda Bíblia é esta: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo 6.51).

De modo geral, protestantes não creem no dogma católico da transubstanciação, que ensina que a hóstia ou o pão da Ceia transforma-se em uma outra substância, isto é, deixa de ser pão de trigo e passa a ser literalmente carne de Jesus. Cremos que o pão consagrado a Deus pela oração, torna-se no símbolo perfeito da vida de Jesus oferecida por nós na cruz do Calvário, comido regularmente pelos cristãos que em comunhão fraterna rememoram a morte de Cristo e celebram a certeza de seu retorno (1Co 11.26: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”).

Todavia, mesmo aqueles cristãos não-batizados nas águas, que não participam da Ceia do Senhor (crianças e novos convertidos, por exemplo), também têm se alimentado de Cristo pela fé, já que gozam dos benefícios de sua morte na cruz e de seu corpo que foi partido por nós: “ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades” (Is 53.5). Quando aceitamos a Cristo pela fé, neste momento nós o internalizamos em nosso ser, como ele mesmo prometeu: “eu e o Pai viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14.23).

Quem se alimenta de Jesus tem vida eterna!

Conclusão

Não temos mais hoje duas fileiras de pães dentro de nossos templos, mas temos continuamente duas fontes de alimento espiritual em nossas vidas: Jesus e a Palavra. Se quisermos estar bem nutridos, saudáveis e vivos, então alimentemo-nos do Senhor Jesus em oração, louvor e comunhão com ele, e alimentemo-nos da Palavra, lendo-a com afinco todos os dias. Deste alimento espiritual não podemos fazer jejum; não podemos passar um dia sequer de fome. Como cantava o poeta Afonso Augusto que já descansa no Senhor, “Se necessitas do pão da vida, vem depressa, come agora. Não não deixes pra outra hora, se a forme te aperta”!

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